PROJETOS

ESPETÁCULO: "PASSIONAL"


De 06 de junho à 30 de agosto de 2012 (quartas e quintas) as 21h00
TEATRO AUGUSTA - SALA NOBRE

                         

O Brasil do início do século XX foi marcado por profundas transformações decorrentes da consolidação do espaço urbano como o centro das relações sociais: grandes cidades ditavam padrões e costumes que constituíam um novo modelo de convivência. Nesse cenário, num período em que o jornalismo não era considerado um ofício propriamente nobre, João do Rio fez carreira na imprensa carioca. A partir do olhar atento e curioso de um mero transeunte, o autor lançou as bases para o exercício do jornalismo investigativo, colhendo nas ruas da metrópole a matéria prima para suas reportagens e, dali, para suas crônicas.
Imortalizado na Academia Brasileira de Letras, porém esquecido nos meios acadêmicos e literários, o autor era considerado “maldito”: por sua vida social controversa (era homossexual) e, sobretudo, pela temática de sua obra, que tocava em pontos sensíveis à moral e aos bons costumes. No entanto, gozou de grande popularidade em seu tempo, bastando dizer que, no cortejo seguido de sua morte, ocorrida em decorrência de um enfarte dentro de um táxi no ano de 1921, estiveram presentes cerca de cem mil pessoas, o que representava, na época, um décimo de toda a população da cidade do Rio de Janeiro.
Nelson Rodrigues chegou a dizer, em uma de suas entrevistas, que suas maiores influências foram O'Neill, Ésquilo e João do Rio. Quando lemos as obras dos dois dramaturgos brasileiros temos a sensação de estarmos nos deparando com o mesmo autor em épocas diferentes, já que ambos apontam suas lentes microscópicas para a sociedade e nos fornecem as chaves da complexa edificação das relações sociais.

Noventa anos após a morte de João do Rio, o espetáculo “Passional” - título inspirado no sentimento que envolve vários personagens dos contos - nos convida a mergulhar na multiplicidade de espaços simbólicos como os prostíbulos, as casas de família, os cassinos e os ambientes de trabalho: locais onde se abrigam os conflitos de personagens que, ao expressarem sentimentos primários como o amor, o desejo, a lascívia, o ódio, a inveja e a ira, nos fornecem valiosa fonte de reflexão sobre os nossos padrões sociais.

Dessa maneira, lançando seu olhar sobre os aspectos particulares das microrrelações intersubjetivas, João do Rio deixou uma obra absolutamente atual e instigante, que nos permite investigar e compreender melhor o mundo contemporâneo.